terça-feira, 1 de março de 2011

Os escritores da liberdade

Os escritores da liberdade


           O filme Os escritores da liberdade é baseado na história real de Erin (interpretada por Hilary Swank), uma professora novata interessada em lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional, a mesma tem papel claro e conciso em relação à aprendizagem, alguns estão ali cumprindo pena judicial, e todos são reféns das gangues avessas ao convívio pacífico com os diferentes. A situação fica clara quando o sistema educacional separa os discentes inteligentes dos considerados como problemáticos, sem analisar o verdadeiro potencial do aluno.
 A cena que mais me chamou a atenção foi quando a professora entregou para cada aluno um caderno para que escrevessem, diariamente, sobre aspectos de suas próprias vidas, desde conflitos que aconteciam entre eles até problemas familiares e sociais. A partir dessa visão Erin propõe mostrar que a realidade do aluno, as suas experiências familiares e sociais são levadas em consideração no processo de ensino-aprendizagem, Em meio a tudo isso ela também, pediu a eles que lessem o "O Diário de Anne Frank" com o propósito de despertar alguma identificação, e a partir de ocasionais encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de tolerância para com o “outro”.
Nesse contexto os alunos foram estimulados à libertação, a serem críticos, criativos e reflexivos diante de uma sociedade excludente, mostrando que é possível fazer a diferença, modificando pelo menos a parcela que está próxima de si. Os alunos saem da condição de oprimidos e se inserem no campo das possibilidades, ao lutarem pelos seus ideais, pelas suas conquistas ao enfrentarem os obstáculos, não mais com violência mais com conhecimento.
 A partir disso, fica claro o papel do professor como mediador do saber e do conhecimento. E o processo de ensino-aprendizagem não só nesta cena, mais no filme todo se deu de forma recíproca, tanto para a professora como para os alunos, pois em um determinado momento ela lhes ensinou mais não deixou de aprender com seus alunos.
 Nesse contexto, o filme destaca, antes de tudo, que a adequada aprendizagem somente ocorre no âmbito de uma relação dialógica que seja legítima e honesta. Ademais, enfatiza a importância do contexto social para o processo ensino/aprendizagem, inclusive quanto à discriminação racial, situações familiares, drogas e violência, que desempenham expressiva influência na vida dos educandos. O conhecimento do “já-existente”, fator importante em uma aprendizagem, adquirido pela professora, foi o que lhe possibilitou a construção de outras estratégias de aprendizagem complementares, compatíveis e significantes para seus alunos.
Contudo, a intensificação das relações entre professor-aluno, o jeito afetivo, a dinâmica das manifestações da sala de aula e formas de comunicação devem ser caracterizadas como pressupostos básicos para o processo da construção do conhecimento e da aprendizagem. Percebe-se também que afetividade e inteligência, são fatores intimamente ligados e influenciados pela socialização.

           Segundo Piaget, o conhecimento é a equilibração/reequilibração entre assimilação e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os objetos do mundo, ou seja, o começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento.
Para Piaget, o sujeito estabelece ação de troca com o meio, o qual pressupõe duas dimensões: a assimilação e a acomodação. Por isso, esse sujeito age ativamente sobre o objeto, de forma que assimila-o, apropriando-se desse objeto. Com isto, cria em si para este objeto um significado próprio, na medida que interpreta-o de acordo com a sua possibilidade e fase cognitiva, faz-se entender que havendo uma acomodação resulta em reestruturação dos esquemas anteriores, o que entende-se que tem produzido aprendizagem ou mudanças cognitiva. Ou talvez, o sujeito por não ter as estruturas cognitivas suficientemente maduras, age no sentido de se transformar ajustando-se num esforço pessoal às resistências impostas pelo objeto do conhecimento, agindo sobre suas próprias estruturas alterando-as para acomodar o objeto experienciado. E assim, estas duas dimensões, assimilação e acomodação, estão intimamente ligadas, de forma que, sem assimilação (interpretação ativa), de determinado objeto (conteúdo) não haveria a acomodação das estruturas psicológicas do aluno. A todo esse processo dá-se o nome de equilibração, que é o verdadeiro motor do desenvolvimento e do progresso intelectual.
Piaget postulou que, é através dos esquemas de ações e representações que as crianças entram em contato com o meio, cada objeto novo as crianças tentam encaixá-las em seus esquemas. É graças aos esquemas que podemos interpretar, dar significado ao meio tornando-o possível apreendê-lo. Num ponto de vista da aprendizagem, conclui-se que a capacidade dos seres humanos para aprender com experiência depende dos esquemas que utilizam para interpretá-la e lhe dar significado. Enquanto, para o processo ensino aprendizagem a capacidade do aluno aprender depende não somente do ensino, mas também das formas ou estruturas de pensamento que ele predispõe para assimilar o ensino, ou seja, depende do nível de competência cognitiva do aluno.
Piaget intitulou as etapas privativas pelas quais a criança constrói o seu conhecimento de “períodos do desenvolvimento”.  Essas etapas são a Sensório-motor (0 – 2 anos); Pré-operatório (2 – 6 anos); Operatório-concreto (7 – 11 anos) e Operacional-formal (11 anos). Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer dentro de cada faixa etária. Todos os indivíduos passam por todas essas fases, porém o inicio e o término de cada uma delas dependem das características biológicas, fatores educacionais e sociais de cada indivíduo.
A proposta de Piaget sobre ensino construtivista propõe uma aprendizagem onde o sujeito constrói seu próprio conhecimento interagindo com objetos e outros sujeitos. No construtivismo o professor deixa de ser um mero transmissor de conhecimentos e passa a proporcionar ambiente de aprendizagem que conduza o aluno ao processo de conhecimento de forma autônoma, partindo de situações da realidade do educando, daquilo que eles já conhecem para o desconhecido.
Para Piaget, o conhecimento não está no sujeito, tampouco no objeto – meio, mas é decorrente das contínuas interações entre os dois. Para ele, a inteligência é relacionada com a aquisição de conhecimento à medida que sua função é estruturar as interações sujeito-objeto. Assim, todo pensamento se origina na ação, e para se conhecer a gênese das operações intelectuais é imprescindível a observação da experiência do sujeito com o objeto.
O teórico destaca com clareza as influências e determinações da interação social no desenvolvimento da inteligência, afirmando que “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas”
Para Jean Piaget é irrefutável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação, e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é atribuída como uma condição inevitável na construção da inteligência, mas, também não é suficiente, o sujeito constrói a sua inteligência e seus próprios conhecimentos de uma maneira ativa.
            O teórico ainda, define a afetividade como todos os movimentos mentais conscientes e inconscientes não-racionais(razão), sendo o afeto um elemento indiferenciado do domínio da afetividade. Piaget dedicou-se exclusivamente ao estudo do desenvolvimento cognitivo, especificamente, à gênese da inteligência e da lógica. Como efeito dos seus estudos concluiu a existência de quatro estágios ou fases do desenvolvimento da inteligência.
Em cada estágio há características privativas pelas quais a criança constrói o seu conhecimento:

Sensório motor (ou prático) 0 – 2 anos: trabalho mental: estabelecer relações entre as ações e as modificações que elas provocam no ambiente físico; exercício dos reflexos; manipulação do mundo por meio da ação. Ao final, constância/permanência do objeto.
Pré-operatório (ou intuitivo) 2 – 6 anos: desenvolvimento da capacidade simbólica (símbolos mentais: imagens e palavras que representam objetos ausentes); explosão lingüística; características do pensamento (egocentrismo, intuição, variância); pensamento dependente das ações externas.
Operatório-concreto 7 – 11 anos: capacidade de ação interna: operação. Características da operação: reversibilidade/invariância – conservação (quantidade, constância, peso, volume); descentração / capacidade de seriação / capacidade de classificação.
 Operacional-formal (abstrato) – 11 anos... A operação se realiza através da linguagem (conceitos). O raciocínio é hipotético-dedutivo (levantamento de hipóteses; realização de deduções).
A concepção piagetiana visa, a socialização como a possibilidade de o indivíduo trocar e compartilhar, efetivamente, significados e de submeter-se racionalmente às regras morais. Outro elemento que irá exercer influência sobre a afetividade, a interatividade e a aprendizagem é o intercâmbio social.
Elementos da teoria de Piaget
Esquema: São estruturas que se modificam com o desenvolvimento mental e que tornam-se cada vez mais refinadas à medida em que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos. Por este motivo, os esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança e, os processos responsáveis por essas mudanças nas estruturas cognitivas são assimilação e acomodação.
Assimilação: É o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento,...) a um esquema ou estrutura do sujeito.
Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui.
Acomodação: É a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. A acomodação pode ser de duas formas, visto que se pode ter duas alternativas: Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou Modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele. Após ter havido a acomodação, a criança tenta novamente encaixar o estímulo no esquema e aí ocorre a assimilação. Por isso, a acomodação não é determinada pelo objeto e sim pela atividade do sujeito sobre este, para tentar assimilá-lo. O balanço entre assimilação e acomodação é chamado de adaptação.
 Equilibração: É o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. Uma fonte de desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação ocorra de determinada maneira, e esta não acontece.
Contudo, a construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado.

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